sábado, 1 de dezembro de 2012

Livros sobre Vieira

Um dos conjuntos de ensaios mais importantes sobre Padre António Vieira:




a edição original




António José Saraiva


a reedição





Sermões

     


     O sermão faz parte da missa e deve ser proferido logo após o evangelho. Dessa maneira fica explicada a impossibilidade de, ao menos em um primeiro momento, não seguir os assuntos específicos à data litúrgica do culto:
 
       (...) Si ha de aver Sermon, ha de ser acabado el Envangelio...El celebrante, y los Diaconos se iràn `a sentar mientras el Sermon y se cubriran, si el Santíssimo no està patente: el Predicador descubrirá la cabeza, si nombrare el nombre de Jesus, ò de Maria Santíssima, ò del Santo quese celebra...

(Bartolomé, 1726)
     

     Dada a circunstância na qual o sermão devia ser proferido, não é de se admirar que os sermões pregados nas domingas do Advento tenham como ponto de partida trechos das passagens bíblicas determinadas pela Igreja para celebrar as datas: para o primeiro domingo, S.Lucas XXI, para o segundo, S. Mateus XI e para o terceiro, S.João I.

     Percebe-se daí que o primeiro constrangimento do sermão sacro, enquanto universo de discurso, está na obediência aos lugares específicos. O segundo, está na maneira correta de se interpretar a escritura, lembremo-nos de que o pregador que não seguisse a interpretação “oficial” poderia ser acusado por blasfêmia, pois não obedecer às regras de interpretação teológica era corromper a palavra divina. A interpretação teológica devia pautar-se no simbolismo evangélico e objetivar a correta decifração da verdade da escritura.

     O simbolismo evangélico acompanha os lugares específicos aos assuntos de que trata o orador sacro e consiste em utilizar cenas do antigo testamento como metáforas para que o novo testamento fosse entendido de maneira conveniente. 

     Vale frisar que um dos primeiros objetos de estudo do aspirante à ordem jesuítica está relacionado ao aprendizado desta maneira de raciocinar e conhecer a doutrina por meio de exercícios espirituais e disputas de oratória. Eram objeto de disputas e de inspiração dos exercícios os sacramentos da Igreja, os mistérios de Cristo, o apocalipse, a figura de Maria e toda a temática referente à conversão.
 
     Na época da Contra-Reforma, o pregador tinha por função interpretar o que estava na Bíblia. Interpretar textos bíblicos significava, então, explicitar sentidos que estavam ocultos na escritura. Segundo esta concepção, as personagens bíblicas e os feitos ocorridos funcionavam como figuras cujo desvendamento só o orador sacro, representante da Igreja, estava autorizado a fazer. Por ser um representante de Deus, atribuía-se ao orador o papel de conselheiro espiritual que tinha por obrigação moral alertar para as conseqüências de atos e sentimentos pecaminosos, orientando à vida venturosa que levaria os fiéis ao reino de Deus.

     Haja vista as responsabilidades imputadas ao orador, é possível imaginar a relação que havia entre Vieira e seu auditório: este esperava que o sentido do texto bíblico fosse desvendado; aquele construía um ethos (imagem forjada pelo orador por meio de seu discurso) de quem tem autoridade e sabedoria para convencer o auditório de que a interpretação correspondia ao sentido verdadeiro do texto bíblico. 

     Uma vez desvendado o sentido dos textos bíblicos, o orador poderia comparar o prescrito pelo sagrado aos fatos mundanos e fazer juízos de valor, aconselhando o que está de acordo com as leis divinas.

     Com base nas informações que temos sobre o universo de discurso sacro, é possível imaginar seu sistema de enunciação típico. Para cada data do calendário litúrgico, há um tema e uma passagem bíblica pré-determinadas. A missa se organiza ao redor delas. Proferido o evangelho, o orador sacro começa a proferir seu discurso cujo ponto de partida é uma parte da citação anterior.

     Esperava-se que seu discurso descobrisse o sentido oculto da escritura. Havia também, por parte do auditório, a expectativa de que o orador se valeria de imagens, de processos metafóricos, de lugares específicos ao assunto de lugares gerais e outros artifícios postulados pela Retórica Antiga. Feita a interpretação bíblica, a parte dedicada à crítica e à censura dos fiéis finalizaria o sermão.

Márcia Sipavicius Seide, O Sermão do Mandato, análise literária e adequação histórica

São Luís do Maranhão











Sermões


Não são só ladrões, diz o santo, os que cortam bolsas ou espreitam os que se vão banhar, para lhes colher a roupa: os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. — Os outros ladrões roubam um homem: estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo do seu risco: estes sem temor, nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam. Diógenes, que tudo via com mais aguda vista que os outros homens, viu que uma grande tropa de varas e ministros de justiça levavam a enforcar uns ladrões, e começou a bradar: — Lá vão os ladrões grandes a enforcar os pequenos. — Ditosa Grécia, que tinha tal pregador! E mais ditosas as outras nações, se nelas não padecera a justiça as mesmas afrontas! Quantas vezes se viu Roma ir a enforcar um ladrão, por ter furtado um carneiro, e no mesmo dia ser levado em triunfo um cônsul, ou ditador, por ter roubado uma província.

Sermão do Bom Ladrão

Livros sobre Vieira


 ANTÔNIO VIEIRA - Jesuíta do rei

O historiador Ronaldo Vainfas, especialista em história do Brasil colonial, reconstitui os momentos mais importantes da vida e da obra do autor com criteriosa atenção à intrincada política da época.

Presença de Vieira

em Botafogo
Rio de Janeiro, Brasil

Presença de Vieira


em
Lisboa